Você tem paixão por cães e ama seu Golden Retriever…Então resolveu ter filhotinhos e virar criador, certo?!

Errado…Desculpe a sinceridade, mas não…

Antes de pensar em ter filhotes, que tal estudarmos um pouco? Se depois de ter todas as informações, você optar por iniciar uma criação séria e responsável, teremos o maior prazer em te ajudar.

Passo-a-passo antes de criar Goldens

1º Estude o padrão da raça

É claro que todos os Goldens são “lindos”, mas isso não significa que deveriam reproduzir.

O padrão da raça é o guia que todo criador deve ter de cor. Com ele em mente, você aprende a avaliar as características físicas ideais da raça, aprende o que é correto e consegue visualizar o que deve ser melhorado nas próximas gerações. Mas não se iluda:  genética de ponta também é essencial.

Ou seja, seu cão deve estar dentro do padrão e ter muito a contribuir com a raça para que você possa considerá-lo como um candidato a reprodução. Por mais lindo que seja, não necessariamente ele possui as características certas para continuar a evolução dos Golden Retrievers.

Você pode frequentar exposições cinófilas para ter contato com outros Golden Retrievers, conversar com criadores e buscar se informar mais sobre a raça, além de treinar seus olhos para conhecer suas características mais importantes e tipos existentes.

2º Estude pedigrees

Agora: estude mais um pouco.

Quando encontrar um cão que lhe agrade e se encaixe nas descrições do padrão da raça, estude seu pedigree. Veja quais linhas de sangue fazem parte da sua composição e quais sistemas de criação foram adotados, como inbreeding, linebreeding e outcross.

Existe um banco de dados ótimo para isso chamado K9Data, que já apresenta diversos pedigrees da raça e pode te apoiar muito nesse estudo.

O pedigree não é apenas um documento formal necessário para que os filhotes sejam registrados, ele é fonte de muitas informações genealógicas dos cães envolvidos no cruzamento e te permite um aprofundamento muito maior sobre longevidade, saúde, compatibilidades de linha de sangue e muito mais.

3º Estude sistemas de criação

Sim, estude de novo.

Inbreeding, line breeding , outcross….Calma! É menos complicado do que parece. Esses termos referem-se a sistemas de criação e tratam da forma e nível de consanguinidade através dos quais você conduz os cruzamentos.

O artigo escrito pela Edna Katie Gammill sempre me guiou, mas cada criador deve escolher o sistema que se encaixe melhor com os seus objetivos e, o que serve para um, pode não servir para outro. É como uma receita de bolo: você pode até seguir nos mínimos detalhes a receita do bolo da sua vó, mas cada bolo sempre será diferente.

4º Aprenda sobre as principais doenças que acometem a raça

(Ops….você vai ter que estudar de novo….)

Displasia coxofemoral e de cotovelos, olhos, coração…. O que são? É genético? É hereditário? Mas afinal, qual a diferença? O que um bom criador pode fazer para diminuir a incidência destes males na sua criação?

E sobre o câncer, que é muito comum na raça, existe algo a ser feito?

Você deve pesquisar ao máximo, ler artigos científicos, conversar com outros criadores mais experientes, entender quais linhas de sangue tem potencial de carregar mais uma ou outra doença. Tudo isso é muito importante tanto para decidir se deve criar, quanto para fazer escolhas de cruzamento que busquem a saúde ao máximo. Lembre-se: você será eternamente responsável por cada cão que criar.

5º Escolhendo as matrizes

Só agora que você já sabe um pouquinho, já tem em mente o “tipo” que lhe agrada, já escolheu o sistema de criação que irá utilizar, está na hora de procurar suas futuras matrizes. Lembre-se sempre de buscá-la em canis de referência, observando os exames de saúde e preferencialmente com criadores que estejam dispostos a te ajudar também a conhecer mais sobre a raça e acelerar o seu processo de aprendizado.

“Uma boa criação, começa na escolha das matrizes”

Meu conselho é: vá com calma!!! Criação se constrói com o tempo e o aprendizado também vem com a prática.

Escolha as filhotas que pretende que um dia sejam suas matrizes e dê a elas todas as condições para um bom desenvolvimento, tanto físico quanto emocional.

Mas não basta escolher ótimas filhotas, com boa genética e fenótipo. Somente após seu crescimento você poderá avaliar se elas se tornaram tudo aquilo que você gostaria, se possuem também o temperamento adequado para o Golden Retriever e a partir daí você deve fazer seus exames de saúde definitivos. Só então é que poderão ser usadas como matrizes.

Existem inúmeros canis, com machos de excelente qualidade para serem usados como padreadores no início de sua criação, então você pode focar em ter excelentes fêmeas e buscar os melhores machos, com tudo isso que já mencionei em vista.

Com o tempo, você vai querer o seu próprio padreador, talvez até proveniente da sua criação. Mas lembre-se que machos padreadores devem ter qualidades excepcionais e passar essas qualidades para futuras gerações. Ou seja, não basta ele mesmo ser um ótimo exemplar da raça, ele precisa ser capaz de transmitir essas características aos seus filhotes. Por isso você deve conhecer os padreadores disponíveis e também ver o máximo de filhotes dele quanto possível, para determinar se ele tem tudo o que você gostaria para sua criação e combinação com a matriz específica que tem em mente.

6º Os filhotes de Golden Retriever da sua criação

Quando tiver sua primeira ninhada, aí sim nasce também o criador!

Acompanhe de perto o crescimento dos bebês e selecione os melhores exemplares para complementar seu plantel.

Use alimentação, vermífugos e vacinas de qualidade. Use produtos de qualidade em geral! Procure profissionais sérios e acostumados com a raça para te orientar.

Além disso, cuide do bem-estar emocional dos filhotes, além do bem-estar físico. Muitas características são formadas durante os primeiros dias e é importante que você faça parte da construção da segurança emocional desses filhotes. Preocupe-se com sua socialização desde o início.

Registre seu canil e seus filhotes e oriente os futuros proprietários. Essa é também responsabilidade do criador, que deve dar sempre suporte aos tutores ao longo da vida dos cães de sua criação.

Reflexões sobre ser criador

Criação de cães é um dom, um grande presente, eu diria! Aposto que quando menos esperar, você vai ter mais cães do que podia imaginar.

As expectativas são altas e nem sempre atingidas. Você vai trabalhar com vidas e deve saber que será sempre responsável por elas.

Prepare-se para mudar seu círculo social, participar de exposições, abrir mão de férias e só postar fotos de cachorros, além de continuamente estudar e se aprimorar como criador. Isso nunca tem fim!

Você vai querer investir em exames de saúde, instalações de qualidade e em novas linhas de sangue.

Isso tudo exige muito do criador, tanto em termos de tempo, quanto de investimento financeiro. Não se iluda achando que criar cães dá retornos altos. Você deve ser responsável e criar da maneira correta, com o bem-estar de todos os envolvidos em mente.

Lembre-se que criação de cães é uma atividade séria que requer dedicação integral.

E quando você achar que já estudou de tudo, vai descobrir que é só o começo….

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Marcela Maines é criadora de Golden Retrievers no Golden Freedom Kennel, e membro da comissão de Criação do Conselho Brasileiro da Raça Golden Retriever.

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